segunda-feira, 29 de julho de 2013

Tabu


Demorei um pouco para escrever sobre Tabu (2012), pois pretendia assistir novamente com o intuito de captar um pouco mais desse grandioso filme dirigido pelo português Miguel Gomes, que já abocanhou prêmios importantes e um grande reconhecimento por parte do público e da crítica. Como não foi possível ainda rever essa maravilha, vou comentar sobre o que ficou registrado na minha mente.

Tabu se divide em duas partes: Paraíso Perdido e Paraíso (sua relação com o cinema de F.W. Murnau se faz presente). Além de um prólogo, onde vemos um explorador português na Àfrica sofrendo ao tentar em vão, ocupar seu tempo para tentar suportar a morte da sua esposa. Ao final, ele se deixa ser engolido por um crocodilo, para logo em seguida, incorporar o animal e ficar ao lado do fantasma de sua mulher. Ficamos sabendo que essas imagens iniciais pertencem à um filme visto por Pilar (Teresa Madruga) num cinema que por sua vez, se encontra bastante envolvida com toda aquela história. É quando entra a primeira parte (Paraíso Perdido) onde conhecemos também Aurora (Laura Soveral), uma solitária senhora que divide um apartamento em Lisboa com Santa (Isabel Muñhoz Cardoso), sua empregada cabo-verdiana com quem vive um relacionamento de muita desconfiança. Pilar é vizinha de Aurora e as duas acabam ficando amigas. Aos poucos, o passado de Aurora vem à tona, e a partir desse ponto, dá início a segunda parte da história (Paraíso). Não vou adentrar em mais detalhes. Para os que gostam de um filme que foge completamente dos padrões hollywoodianos, eis um belíssimo exemplar. 

É necessário assistir mais de uma vez para absorver outras nuances da obra. Mas o que pude verificar, é a relação entre o passado longínquo das personagens e o melancólico presente. Um presente que sofre ao saber que o passado jamais irá se repetir e que vai existir somente na memória. Pode-se fazer até mesmo uma comparação com a situação atual de Portugal (e de outros países da Europa) com outras épocas.

O que mais impressiona na obra de Gomes é justamente a forma como ele apresenta a história. A segunda parte onde é descortinado o passado de Aurora, é todo narrado e sem diálogo algum. Lembra a boa época do cinema mudo, onde as expressões dos atores diziam mais que qualquer palavra.

A fotografia em preto e branco é um show à parte em todo o filme e faz um casamento perfeito com a cuidadosa edição.

O que dizer mais? Só revendo para tentar pescar algo que passou despercebido num primeiro momento. Algo tão comum em uma obra que é desde já, um forte candidato à melhor do ano. Nota 10.




domingo, 14 de julho de 2013

Detona Ralph (Wreck-It Ralph)


Não é preciso ser um aficionado por videogames para gostar de Detona Ralph (2012). Mas é claro que a baba poderá escorrer, se esse for o seu caso. Principalmente após as aparições de diversos personagens e às inúmeras referências de jogos. Pac-Man, Sonic, Zangief, Ryu e muitos outros marcam presença. No entanto, a grande força da animação dirigida por Rich Moore está na forma como o roteiro foi desenvolvido e principalmente nas questões que ele aborda. Além de um excelente visual, como não poderia deixar de ser.

Toda a trama se passa dentro dos jogos eletrônicos em uma casa repleta de fliperamas que se conectam entre si, onde ocorre a interação dos diversos personagens. Um deles é Ralph (John C. Reilly), o vilão do jogo Conserta Félix Jr. que destrói tudo que vê pelo caminho. Já Fix-It Felix (Jack McBryer), é o mocinho que conserta tudo com seu martelo mágico. Após o fechamento da casa, é descortinado todo o universo dos bastidores desses jogos apresentando o cotidiano desses personagens. Principalmente de Ralph, que  cansado de se sentir excluído e injustiçado pelos outros, almeja conseguir uma medalha que é concedida somente aos heróis. Para isso, ele acaba invadindo outros dois jogos onde irá conhecer personagens importantes na trama, como a Sargento Calhoun (Jane Lynch) e Vanellope von Schweetz (Sarah Silverman).

Como eu já havia dito, o filme tem um visual deslumbrante que na minha opinião alcança o seu ápice, quando Ralph adentra o colorido jogo Corrida Doce. É nesse ambiente que ele conhece a menina Vanellope que também sofre rejeição. Um fato curioso é que Rich criou essa personagem inspirado num livro escrito por Sarah Silverman,que em seguida aceitou o convite do diretor para fazer a voz da Vanellope.

Ao meu ver, o filme perde um pouco a sua fluidez lá pela metade e só retorna com força total lá pelo seu final empolgante. Uma dica é assistir os créditos finais com aparições de vários jogos.

Uma das cenas mais bacanas acontece próximo ao início envolvendo uma reunião com vários vilões, onde eles discutem sobre suas própias condições.

Se vale a pena assistir? Com toda a certeza e principalmente pela sua mensagem extremamente relevante que agrada crianças e adultos. Agora preciso terminar o texto e assistir outro filme. Game Over. Nota 7.


sábado, 6 de julho de 2013

Rio Vermelho (Red River)


É deveras estimulante ter a certeza sobre a existência de diversos filmes maravilhosos ainda inéditos para este que vos escreve. Nessa semana tive a oportunidade de assistir Rio Vermelho (1948), que é um clássico bangue-bangue dirigido de forma magnífica pelo grande Howard Hawks e também por Arthur Rosson. Gostaria antes de mais nada, agradecer ao amigo Conrado que é um grande conhecedor dos filmes de faroeste e me emprestou essa preciosidade. Valeu xerife!

O filme apresenta a jornada de Thomas Dunson (John Wayne) na busca de novas terras para a criação do seu gado. Juntamente com seu amigo `Groot` (Walter Brennan) e o jovem Matthew (Montgomery Clift), conseguem obter sucesso com seu rebanho. Com o passar dos anos e após a  guerra civil, a crise chega e o dinheiro seca, forçando Dunson à procurar novos ares. Ele decide depois de coletar várias informações, que a melhor opção é chegar até Missouri após atravessar o rio. Mas, como viajar vários quilômetros com aquela quantidade enorme de animais? Com ajuda de vários homens, ele inicia a missão. Com o tempo, vários problemas vão acontecendo durante o trajeto, aumentando ainda mais as desavenças entre aqueles homens. Dunson por sua vez, torna-se mais autoritário e rude com as pessoas que o cercam. Na minha opinião, é justamente nesses conflitos internos que o filme cresce, mostrando até onde uma pessoa pode ir para conseguir alcançar seu objetivo.

Prefiro não entrar em mais detalhes para não estragar as surpresas de quem ainda não assistiu. O que posso afirmar é que o filme possui uma fluidez que não se encontra em qualquer esquina. Prende a nossa atenção do início ao fim graças ao excelente roteiro e principalmente da maravilhosa edição.

O que dizer de John Wayne? Um papel de um personagem ambíguo que caiu como uma luva para ele. Montgomery Clift também está muito bem no seu primeiro filme. Aliás, por falar em Clift, seu personagem no filme aparentemente é homossexual e isso fica implícito na maneira que ele faz um elogio à arma de um outro pistoleiro. Lembrando que o ator era gay na vida real.

Fico imaginando o trabalho árduo de dirigir com todos aqueles animais. Hawks por sua vez, deve ter se especializado nesse ramo, já que realizou Hatari!, outro filme com diversos bichos.

Só não gostei muito do desfecho. Porém , esse fato em nada tira a grandiosidade desse trabalho que merece ser visto e revisto sempre. Nota 9.