Lembro da última vez que assisti Mulher Nota 1000 (1985): era um moleque ainda deslumbrado com o videocassete e sem entender a proposta do genial John Hughes. Achei aquilo tudo uma loucura e não consegui prestar atenção direito no filme. Lembro também que estava assistindo junto com o meu padrinho Ricardo, com quem assisti diversos filmes dos anos 80.
Depois de todos esses anos e conversas com amigos sobre os filmes produzidos nessa década, decidi revisitar essa obra que obviamente se revelou de uma outra forma. Principalmente depois de conhecer a marca dos filmes de John Hugues. Muitos elementos caros ás obras do diretor estão presentes aqui como por exemplo: a dificuldade de comunicação entre pais e filhos e a insegurança na fase da adolescência.
Somos apresentados aos adolescentes Gary (Anthony Michael Hall) e Wyatt (Ilan Mitchel-Smith) que sofrem todos os tipos de bullying no dia a dia e que fantasiam ter um mínimo de popularidade com as meninas e colegas da escola. Até que um dia, após assistirem um filme de Frankenstein na televisão, decidem criar uma mulher perfeita no computador. Só que um incidente com um raio, transforma toda a casa num verdadeiro caos e a mulher virtual se transforma em uma mulher de carne e osso com poderes. A partir daí, os meninos - que deram à mulher o nome de Lisa (Kelly LeBrock), - irão se deparar com situações que os ajudarão a encontrar a principal razão dos seus conflitos.
O roteiro escrito por John Hugues tem uma boa liga e talvez peque pelo excesso de absurdos da trama. Algumas piadas funcionam mais do que outras. Mas nada que comprometa o resultado como um todo, já que a proposta é embarcar na doideira científica para demonstrar o caos interior dessa fase tão difícil na vida de cada um de nós que é a adolescência. Sobra até uma dose de ironia na trama: na cena em que Lisa, após dar uma lição de vida para os garotos, percebe um artefato importante da guerra fria surgindo do chão e em sua ponta pousa uma pomba branca.
Todo o trabalho de direção de arte condiz bem com a época. Assim como os figurinos, a maquiagem exagerada e os cabelos por vezes espalhafatosos da belíssima Kelly LeBrock. A trilha sonora também vai pelo mesmo caminho.
Não tem nenhuma atuação de destaque dos atores. É curioso ver o "Homem de Ferro" Robert Downey Jr. novinho e sem ser creditado com o Jr.
Mulher Nota 1000 aborda temas importantes no bom estilo de Hughes e estimula a criação do nosso "Frankenstein interior" que pode dar certo. Nota 8