Eis uma obra representativa do século XXI. Cosmópolis (2012) é isso e muito mais.
David Cronenberg retratou um estudo sobre o nosso mundo nos dias de hoje. Mundo esse em que a cada dia nos tornamos mais insensíveis e sem tempo para nada. Um mundo próximo de um colapso financeiro onde as aparências devem permanecer intactas mesmo em meio ao caos.
A escolha de Robert Pattinson para interpretar Eric Packer foi perfeita. Seu personagem é um jovem gênio do mercado financeiro, que está prestes a quebrar graças á um negócio mal sucedido. Mas isso não parece preocupar tanto o moço. Seu maior interesse nesse dia é atravessar a cidade dentro de sua limusine para cortar o cabelo no outro lado da cidade. A frieza que expressa com relação a quase tudo que acontece do lado de fora do seu carro é a imagem do morto-vivo. Do lado oposto desse seu mundinho, visualizamos imensos e violentos protestos do povo, o funeral de um famoso rapper e um trânsito parecido com o nosso. Sabemos também da visita do presidente à cidade e que contribui ainda mais com todo o distúrbio.
Eric realiza praticamente tudo dentro do carro. É lá que recebe suas visitas, faz exames médicos, sexo, contatos profissionais e outras coisas. E é nesses contatos que percebemos toda a fragilidade desse homem, apesar das aparências.
Cosmópolis não é um filme fácil de ser digerido. Com o ritmo lento, somos apresentados aos personagens da trama que travam diálogos interessantes com Eric.
Agora, sem querer desrespeitar ou subestimar a inteligência de alguém, se você está acostumado ou só curte assistir filmes mastigadinhos, passe longe dessa obra. Não quero dizer que um fã da saga Crepúsculo não consiga captar algo da história, mas tudo aqui é bem complexo. Quem conhece filmes como 2001 - Uma Odisséia no Espaço ou Árvore da Vida sabe do que estou falando.
Ao meu ver, Cosmópolis é uma obra que deve ser degustada diversas vezes pra se obter cada vez mais uma impressão diferente. Tudo que relatei nas linhas acima, foi a minha interpretação até o exato momento.
Cronenberg que se baseou no livro de Don De Lillo, na minha opinião falhou apenas no andamento da trama, mas isso também deve ter sido proposital e com o intuito de refletir a vida de seu protagonista.
Destaco a maravilhosa Juliette Binoche (atriz que antigamente não gostava e hoje sou fã), Samantha Morton, Jay Baruchel e o grande Paul Giamatti, que na minha opinião, arrebenta na cena com Pattinson , onde conversam sobre próstata assimétrica.
Será que ainda temos salvação nesse mundo onde o dinheiro está acima do amor? Um filme para analisar, pensar e refletir. Até o próximo corte de cabelo. Nota 9