quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

De Ilusão Também se Vive (Miracle on 34th Street)



Esse ano tive pela primeira vez, a experiência de vestir o roupão de Papai Noel. Todo desconforto causado pelo imenso calor que fazia, foi compensado pelos olhares de encanto e admiração daquelas crianças que realmente acreditavam que estavam diante do bom velhinho. Eu não poderia desapontá-las. Respondi á diversas questões sobre onde eu morava,onde estariam as renas, se eu iria visitá-las na véspera de Natal, etc... Um dia antes, fiz uma pesquisa na internet sobre Papai Noel com o intuito de incorporar ainda mais o personagem e não fazer feio diante da molecada.
Mesmo depois de todos esses anos, a perda da inocência,de entender que tudo não passa de desculpas para alimentar um capitalismo sujo e selvagem e de tocar com a minha banda o clássico punk Papai Noel velho batuta dos Garotos Podres, eu me emocionei e lembrei da minha infância na época em que eu também acreditava nessas histórias. É como se a magia tivesse voltado naquele momento. Lembro-me que não fiquei tão arrasado quando descobri que tudo não passava de uma farsa. Mas como lidar essa situação com os nossos filhos e filhas? Tem um post muito interessante da minha amiga blogueira, mãe e roqueira, Joicy em seu maravilhoso blog Umas e Outras em que ela relata suas experiências natalinas com o seu filho. Muito bacana.

Todos esses acontecimentos motivaram ainda mais na apreciação do filme De Ilusão Também se Vive (1947), que é recomendadíssimo para assistir nessa época de fim de ano e que ainda mantém todo o seu frescor mesmo depois desses anos todos. Só não é melhor do que A Felicidade não se Compra do Frank Capra que na minha opinião continua sendo o grande clássico para se assistir no Natal e também Rudolph, a Rena do Nariz Vermelho que eu sempre assistia na minha infância quando passava na TV.

Na história, um senhor barbudo chamado Kris Kringle (Edmund Gwenn) se apresenta como o verdadeiro Papai Noel e é contratado para trabalhar na Macy´s, uma famosa loja de brinquedos em Nova York e que promove eventos em época de Natal. Lá também trabalha Doris Walker (Maureen O'Hara) uma determinada funcionária que também contribuiu para a contratação de Kris. Ela é mãe de Susan Walker (Natalie Wood), uma menina que não acredita em Papai Noel. Com o passar do tempo, mesmo com o estrondoso sucesso do novo Papai Noel na loja, muios desconfiam que Kris é louco e a história vai acabar num tribunal onde Kris é auxiliado por Fred Gailey (John Payne) um advogado que é apaixonado por Doris. A principal missão de Kris na trama, é trazer de volta para a menina Susan a magia do Natal.

O elenco está afiadíssimo, onde encontramos uma Natalie Wood no início da sua carreira e Edmund Gwenn no papel do suposto Papai Noel que lhe garantiu um Oscar como ator coadjuvante. Todos muito bem conduzidos pelo diretor George Seaton que realizou uma obra encantadora e emocionante. Para assistir comendo uma deliciosa rabanada.

Esse deve ser o último post antes do top 20 de 2011, onde eu seleciono os 20 melhores filmes lançados no cinema aqui do Rio de Janeiro no ano que passou. Á todos um ano novo de muita paz, saúde e alegria. Ah... a nota do filme. Nota 8.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Depois de Horas (After Hours)



Sabe quando você é seduzido por um filme antes dos 15 minutos de exibição? Pois é digníssimos leitores desse modesto blog, isso aconteceu comigo durante a apreciação de Depois de Horas (1985) do Martin Scorsese e que tem a cara dos anos 80. Sei que a obra possui algumas imperfeições, mas mesmo assim considero hoje um dos melhores desse magnífico diretor. Recomendo assistir durante a madrugada, pois é justamente nesse horário que a trama se desenrola.

A história nos apresenta Paul Hackett (Griffin Dunne), um rapaz solitário e desanimado com o emprego que tem. Após uma noite de tédio e sem conseguir dormir, já lá pelas tantas, decide parar numa lanchonete para beber um café e ler um livro (Trópico de Câncer de Henry Miller). Lá ele conhece Marcy (Rosana Arquete), que puxa uma conversa dizendo que já tinha lido o tal livro. Em seguida ambos combinam de se encontrar num apartamento de uma amiga da Marcy. A partir daí meus amigos e minhas amigas, as situações mais improváveis e absurdas acontecem com o pobre rapaz que no final das contas, o que ele mais deseja no mundo, é justamente retornar para sua casa. Como mesmo diz a minha mãe: "Nada como a nossa casa."

Um dos grandes trunfos do filme ao meu ver, é mesclar suspense,drama e comédia na dose certa. Há momentos de pura tensão com outros extremamente hilários.

Scorsese (que tem o seu momento Hitchcock quando faz uma ponta em uma festa punk) apresenta mais uma vez a sua querida Nova York durante a madrugada e com seus diversos personagens preenchendo as paisagens. Seu trabalho de direção e de toda a sua equipe contribuí e muito para deixar o espectador cada vez mais sintonizado na trama. Desde o roteiro ágil de Joseph Minion, passando pela bela fotografia de Michael Ballhaus e indo até a edição de Thelma Schoonmaker, todos estão de parabéns. Isso sem citar a trilha de Howard Shore que sublinha as cenas de forma estupenda.

Um filme que injustamente não tem o mesmo reconhecimento de outras obras do diretor como os Bons Companheiros, Taxi Driver e Touto Indomável só para citar alguns.

Como diz o meu amigo Marcelo (Um ano em 365 filmes): "Esse é clássico!" Concordo plenamente Celo. Nota 10.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Monstros (Freaks)



Em um final de noite após uma tentativa fracassada de dormir cedo, decidi encarar um filme que me fez perder totalmente a vontade de cair no sono. E nada mais é que o polêmico e maldito Monstros (1932) do diretor Tod Browning.

Após o sucesso de algumas obras de terror da Universal, Irving Thalberg (patrão da MGM) queria produzir um filme mais horrendo do que os realizados anteriormente. Caiu nas mãos de Browning a responsabilidade de dirigir Monstros. E caiu nas mãos certas, pois o diretor realizou aqui o seu melhor trabalho. No entanto é uma obra extremamente ousada para a época e que depois de pronta foi proibida em alguns países como o Reino Unido por exemplo onde ficou 30 anos sem ser exibido. Nos Estados Unidos, o filme também não foi bem aceito.

Mas o motivo de tanta polêmica estava relacionado com os atores que realmente apresentavam deficiências físicas. O elenco é composto por anões, gêmeas siamesas, um homem sem os membros que se arrastava feito minhoca, um outro que se locomovia usando apenas os braços, uma mulher que não tinha braços e se alimentava usando os própios pés, indivíduos com a cabeça deformada e alguns outros. Seus personagens eram apresentados como aberrações de um famoso circo e causavam reações de espanto e repugnância do público.

Na trama, o anão Hans (Harry Earles) se apaixona perdidamente pela trapezista Cleopatra (Olga Baclanova) que por sua vez não dá a mínima para o pequenino homem. No entanto, ao saber que ele herdou uma baita fortuna, planeja dar o golpe do baú e decide se casar com Hans. Após o casório, tenta envenenar seu marido para em seguida botar a mão na grana e fugir com seu amante Hercules (Henry Victor) que também trabalha no circo. Só que todos descobrem seu plano perverso e decidem se vingar da moça e de seu amante.

O filme tem várias cenas memoráveis e a minha predileta é a do casamento em que todos gritam: "We accept you, one of us!" onde eles dizem que a trapezista agora também faz parte do grupo. Essa cena também é mostrada no excelente filme Os Sonhadores de Bernardo Bertolucci.

Outro aspecto interessante é a boa apresentação da história em pouco mais de 60 minutos.

Fico imaginando essa obra sendo realizada nos dias atuais onde vemos um vampiro disputando com um lobisomen o posto de bonitinho da vez e filmes de terror com litros de sangue sendo jorrados na tela. Nada deve ter causado tanto estardalhaço quanto esse filme realizado ainda nos primórdios do cinema falado.

Uma obra influente e impactante até nos dias de hoje e que aponta quem são os verdadeiros monstros. Nota 9.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia



Lembro-me perfeitamente quando esse filme passou na TV ainda nos anos 80, da minha mãe falando que conheceu o Lúcio Flávio ainda na adolescência e que certo dia ele se virou para as pessoas mais próximas dizendo que ia sumir sem dar maiores explicações. Todos estranharam tal comportamento porém ninguém imaginou que futuramente aquele menino de olhos claros estaria presente inúmeras vezes nos noticiários policiais apontado como um dos maiores criminosos do país naquela época.


Recentemente tive a oportunidade de assistir Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977) gravado do Canal Brasil e gostei muito do filme que é dirigido pelo grande Hector Babenco. Esse é apenas o segundo filme do Babenco que vejo. O primeiro foi Carandiru.


A obra mostra os vários assaltos a banco perpetrados pela gangue de Lúcio Flávio (Reginaldo Faria) e o envolvimento de policiais corruptos nessas ações. Nessa época ficou conhecido um grupo chamado Esquadrão da Morte, que trabalhava á margem da lei e que foi desmascarado pelo própio Lúcio um pouco antes da sua morte. No filme, os nomes dos policiais são fictícios.


Com uma direção firme e um roteiro baseado no livro homônimo de José Louzeiro, o filme conta com atuações impecáveis de Reginaldo Faria, Milton Gonçalvez, Ivan Cândido e Ivan de Almeida além de partcipações pra lá de especiais de Grande Otelo, Stepan Nercessian, Paulo César Pereio, Lady Francisco e Ana Maria Magalhães.


Um belo exemplar do nosso cinema que denuncia a sujeira nas instituições desde tempos longínquos. Nota 8.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O Circo (The Circus)



Eis mais uma obra encantadora que eu tive o previlégio de rever hoje. O Circo (1928) mantém toda a sua graça e confirma toda a genilidade de Charles Chaplin que além de diretor, é produtor,roteirista,ator e compositor.


A primeira vez que assisti essa obra foi quando aluguei em VHS na saudosa locadora Sétima Arte de Bonsucesso onde conheci o meu amigo Marcelo (olha ele aí de novo) do blog um ano em 365 filmes que trabalhou um tempo por lá. E mesmo depois de tanto tempo a maravilhosa sensação de assistir essa obra permanece intacta.


Mesmo não sendo tão aclamado quanto outros filmes do diretor, O Circo está entre os meus favoritos. Como não se encantar com cenas do personagem vagabundo (Charles Chaplin) fugindo da mula? Ou aquela em que ele se atrapalha todo tentndo ajudar o mágico? Tem a cena da corda bamba e a interação com os macacos... enfim são muitas imagens marcantes.


Mas claro que o filme não é só comédia. Como toda obra de Chaplin, a história também tem uma carga emocional muito forte, e isso é bem representado na forma como os funcionários do circo são tratados e na relação do vagabundo com uma funcionária (Merna Kennedy) que é filha do dono do circo.


Na trama, o vagabundo é perseguido pela polícia após ser confundido com um assaltante de carteiras (Steve Murphy) e acaba por entrar em pleno espetáculo de um circo onde vira a grande atração. É imediatamente contratado para trabalhar no local e lá se apaixona pela filha do autoritário dono (Al Ernest Garcia). Daí pra frente dá-lhe confusão e trapalhadas.


É impressionante como Chaplin consegue ir do riso ás lágrimas com uma equalização perfeita e sem perder o ritmo da trama. Seus filmes tem alegrias e tristezas, assim como a vida de todos nós.


Uma das grandes obras desse fantástico realizador. Nota 10.






quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A Pele que Habito (La Piel que Habito)



Olá ilustres frequentadores desse humilde blog. Estou aqui novamente para informá-los que o B-Cine voltou após um longo período de sono e está mais vivo que nunca. Gostaria antes de mais nada, agradecer á vocês queridos leitores e especialmente ao meu amigo Marcelo do blog um ano em 365 filmes que foi um grande incentivador para que esse espaço permanecesse vivo. Esse post é dedicado á ele.

Inclusive foi lendo a crítica do Marcelo em seu blog que me empolguei em pegar o trem e o metrô para o Estação Sesc Laura Alvim em Ipanema para assistir esse novo petardo de Pedro Almodovar.

A Pele que Habito (2011) é na minha opinião, o melhor Almodovar desde Fale com Ela (meu favorito) e discordo de algumas críticas que falam da frieza do filme ou que o diretor modificou demais o seu estilo. A cena final desmorona tudo isso que foi dito e achei tudo puro Almodovar.

Antonio Banderas interpreta o cirurgião plástico Roberto Ledgard que mantém uma paciente (Elena Anaya) enclausurada em sua casa e que serve como cobaia para a formulação de uma nova pele mais resistente. Não dá para entregar mais a história para não estragar as surpresas que estão por vir. Através de um flashback, a trama misteriosa vai aos poucos desvendando seus personagens e respondendo as perguntas do espectador.

Outra atriz que está muito bem é Marisa Paredes,sempre presente nos filmes do diretor e que aqui interpreta uma misteriosa funcionária do cirurgião.

Antonio Banderas voltou a trabalhar com o diretor depois de 21 anos e seu personagem parece ter inspirado a edição de José Salcedo com cortes precisos de dar gosto.

Uma obra densa e arrebatadora. Com certeza é forte candidata ao top 20 do final de ano. Nota 9.